Sobre "Star Trek"

"Star Trek" é um fenômeno mundial da Cultura Pop há quatro décadas, porém já há muitos anos enfrenta um grande problema: não consegue atrair novos espectadores, seja na TV ou no cinema.
Vale lembrar que o programa original, quando exibido pela primeira vez, não foi nenhum grande sucesso. Tal sucesso só veio com as reprises. Mesmo naquela época, muitos já achavam o programa enfadonho, com pouca ação e muito papo. Resultado: muita gente nem sequer tentou assistir a um episódio ou um filme de "Star Trek" por conta dessas alegações, não conhecendo assim um dos universos mais complexos da ficção, cheio de personagens carismáticos.
Com diversas séries, filmes, livros, HQs e games, a franquia sempre manteve uma fiel comunidade de fãs, mas continuava muito criticada pelo público em geral, mesmo quando da exibição da última série da saga, "Enterprise". Mas a Paramount não desistiu e convocou um nome de peso, dando-lhe liberdade quase total para fazer o que quisesse com "Jornada nas Estrelas" (que a partir do início desse projeto, passou a se chamar "Star Trek" no mundo inteiro, numa clara tentativa de fortalecer nome e marca, tal como foi feito antes com "Star Wars").
Entra J.J. Abrams. Mais conhecido pelo excepcional seriado "Lost", Abrams é um verdadeiro Midas do entretenimento. Tudo o que se envolve rende elogios e muito dinheiro. Criou e produziu seriados de sucesso como o já citado "Lost", "Alias", "Felicity" e "Fringe", dirigiu e roteirizou o melhor filme de "Missão: Impossível" e foi um dos criadores de "Cloverfield: Monstro".
Abrams aceitou o convite e se viu com um grande desafio nas mãos. Afinal, como conquistar uma nova geração de fãs usando um nome que já tem tantos anos de estrada? Num primeiro momento, tudo indicava para um quase literal remake da Série Clássica, recontando as primeiras missões de Kirk, Spock e companhia.
Mas não é que Abrams surpreendeu? "Star Trek", como simplesmente é chamado o décimo-primeiro filme da franquia, foi audaciosamente onde nenhum filme da saga jamais esteve.
Você nunca viu "Star Trek" e quer um filme de ação espacial? Você quer visuais cheios de tecnologia de ponta? Personagens fortes? Bom humor? Drama? Ou você é um fã das antigas e espera um grande respeito com a série original? Bem, não importa qual dessas coisas você quer, pois todas estão neste novo filme.
É difícil comentar muito sem estragar nada, mas vamos tentar assim mesmo. Nunca foi mistério que os protagonistas principais de "Star Trek" são Kirk e Spock (seguidos bem de perto pelo Dr. McCoy), e por isso mesmo esse novo filme, que mostra as origens de tudo e quase todos, centra-se nos dois personagens, desde a infância de ambos. Kirk é Chris Pine, enquanto Spock é Zachary Quinto, o Sylar de "Heroes". Além de ser fiel ao produto original, a escolha de dar destaque aos dois é importante para criar todo o clima do filme, todo o conflito, pois afinal, em essência, estes personagens são quase o exato oposto um do outro, ao mesmo tempo em que muito parecidos.
Kirk tem problemas com autoridade, é rebelde, mulherengo, impulsivo. Isso não é novidade para quem é fã da série, mas imagine todos esses elementos sem o refinamento criado por anos no comando da Enterprise. Pois é, o jovem Kirk é ainda mais divertido do que se pode esperar, tornando-se exatamente o tipo de personagem que o público jovem de hoje em dia adora. Spock, por outro lado, é controlado, tentando sempre reprimir suas emoções, obedecendo à risca o manual da Frota Estelar. E Quinto não deve nada ao Spock original, mostrando toda a lógica cínica do personagem, com um visual dos mais fiéis. Não é surpresa alguma que os dois, quando se vêem pela primeira vez, não se bicam muito.
Como já dito antes, outro personagem sempre importante é o Dr. Leonard McCoy, desta vez vivido por Karl Urban (de O Senhor dos Anéis). Normalmente um brutamontes, o ator personificou muito bem o personagem, emagrecendo e fazendo jus ao apelido do bom doutor, Magro (Bones, no inglês), apelido que é até explicado no filme. Ele até reproduz alguns dos trejeitos do ator original, o já falecido DeForest Kelly.
Uma vantagem do novo filme é que quase todos os personagens têm seu grande momento nas telas, algo que raramente acontecia na Série Clássica. Uhura (Zoe Saldana) é a que mais surpreende por seu aumento na participação. A atriz, além de linda, é, desculpem os fãs mais antigos, bem mais competente do que Nichelle Nichols (que também participou de "Heroes"), a protagonista original, ou talvez essa impressão seja criada justamente pelo maior desenvolvimento da personagem.
Hukaru Sulu, antes vivido por George Takei (mais um que também atuou em "Heroes"), desta vez é John Cho. Lembrando uma das mais divertidas participações de Sulu na Série Clássica, neste filme é destacada sua habilidade na esgrima, numa boa cena de ação.
O sempre engraçadissímo Simon Pegg caiu como uma luva no papel de Scotty, antes vivido pelo também já falecido James Doohan. O egocentrismo do personagem é o ponto forte, o que o torna impagável na pele de Pegg.Até mesmo o Capitão Pike (agora vivido por Bruce Greenwood) brilha talvez mais do que no seriado original, do qual por pouco não foi o personagem principal. Somente Chekov (Anton Yelchin) não é bem usado, aparecendo muito pouco na tela.O vilão Nero, interpretado por Eric Bana (de "Hulk" e "Tróia"), tem um grande visual, mas seu desenvolvimento como personagem se deu todo na HQ que serviu de prelúdio para o filme, "Stark Trek: Countdown", infelizmente inédita por aqui. Diga-se de passagem, alguns podem achar a parte da trama envolvendo Nero e Spock um pouco simplista justamente por conta de não terem lido esta HQ, que conta em detalhes toda essa história.
Não é segredo algum que Leonard Nimoy volta ao papel de Spock. Mesmo Kirk sendo o capitão da Enterprise e o personagem principal, Spock sempre foi o mais emblemático tripulante da nave, e por isso mesmo está presente no filme, numa participação que demonstra todo o respeito que Abrams e companhia têm pela franquia.
"Star Trek" dá um novo fôlego impressionante à saga, de modo que agrada todos os públicos. Se antes parecia impossível imaginar grandes e ótimas cenas de ação em "Star Trek", agora serão justamente essas cenas que deixarão espectadores de queixo caído. Os envolvidos foram muito corajosos, dando um jeito de respeitar tudo o que veio antes, e ao mesmo tempo inovando bastante. Novos ou antigos, os apreciadores de "Star Trek" com certeza desejarão uma vida longa e próspera ao universo criado por Gene Roddenberry (já falecido, e cuja esposa, Majel Berrett, recentemente também falecida, faz pela última vez a voz dos computadores da Frota Estelar).
Por : Leonardo Vicente Di Sessa
 

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